"Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"
A metáfora da metamorfose ambulante representa a fluidez da vida e a necessidade de adaptação constante. Raul rejeita a rigidez do pensamento fixo, simbolizado pela "velha opinião formada sobre tudo". Ele celebra a mudança e o aprendizado contínuo como uma forma autêntica de viver, alinhando-se à filosofia de Heráclito, que afirma que "tudo flui" e que a única constante na vida é a mudança.
"Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes"
Aqui, o autor reconhece a contradição como parte da condição humana. Ele desafia a ideia de consistência absoluta, sugerindo que a capacidade de rever e contradizer suas opiniões é essencial para o crescimento pessoal. Esse trecho questiona a obsessão moderna por coerência, propondo uma visão mais flexível e honesta da vida.
"Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou"
O amor e a identidade são apresentados como conceitos indefinidos, constantemente em construção. Raul nos lembra que buscar respostas definitivas sobre quem somos ou o que sentimos é um esforço infrutífero. Essa visão ressoa com o existencialismo, especialmente com Sartre, que acredita que o ser humano é um "projeto em aberto" e se define pelas escolhas que faz ao longo da vida.
"Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagouSe hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor"
A transitoriedade das emoções e estados de ser é destacada neste trecho. Assim como a fama ou o ódio, tudo é passageiro. Raul nos convida a aceitar a impermanência da vida como parte de sua beleza, reforçando a ideia de que tanto as glórias quanto os desafios têm um caráter efêmero. Essa aceitação da impermanência se aproxima da filosofia budista, que reconhece o sofrimento como resultado do apego a estados que inevitavelmente mudam.
"Lhe tenho amor
Lhe tenho horrorLhe faço amor
Eu sou um ator"
Ao se autodenominar um "ator", Raul admite que o ser humano é multifacetado e vive diferentes papéis ao longo da vida. Essa reflexão sugere que nossas emoções e ações são condicionadas pelas circunstâncias, como se estivéssemos encenando diferentes versões de nós mesmos. Isso remete à ideia do dramaturgo Shakespeare: "O mundo é um palco, e todos os homens e mulheres meros atores".
"É chato chegar
A um objetivo num instanteEu quero viver
Nessa metamorfose ambulante"
Aqui, Raul valoriza o processo mais do que o resultado. Ele critica a pressa em alcançar objetivos, apontando que a verdadeira riqueza da vida está no caminho percorrido. Isso conecta-se à ideia de Nietzsche sobre a "eterna busca" e a importância de aproveitar o presente em vez de viver obcecado por metas futuras.
"Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes"
A capacidade de "desdizer" reafirma o valor da flexibilidade e da autocrítica. Ao rever suas palavras e ideias, Raul encoraja a rejeição de dogmas pessoais e sociais, sugerindo que o crescimento exige coragem para mudar de perspectiva.
Concluão
"Metamorfose Ambulante" é um manifesto da liberdade individual e da impermanência da vida. Raul Seixas rejeita a ideia de consistência como virtude e abraça a mudança, a contradição e a incerteza como características fundamentais da experiência humana. Ele nos ensina que viver de forma autêntica exige desapego das velhas certezas, coragem para se reinventar e abertura para aceitar as transformações inevitáveis.
A música é um convite filosófico para abandonar o medo de mudar e abraçar a vida como um processo contínuo de evolução, em que a busca pelo autoconhecimento é mais importante do que alcançar respostas definitivas. Isso faz dela um verdadeiro hino à liberdade e à fluidez da existência.
"Viver é aceitar ser uma metamorfose, mudando sempre, sem medo de desdizer o que um dia foi certeza."